Tommaso Russo
Tenho lido muitos “conselhos”
para pessoas que se sentem infelizes no trabalho. As sugestões de melhoria na
maior parte das vezes trazem dicas que sugerem implicitamente que o problema
está nas pessoas (organizar melhor o tempo, sorrir sempre, priorizar o que é
importante e coisas parecidas).
Ou seja, dada uma empresa e sua
cultura, a solução é engolir o sapo e mudar os comportamentos: automaticamente,
tudo se resolve e todos serão felizes. Bem, em primeiro lugar, nem sempre é tão
simples mudar certos comportamentos pessoais – de fato, pode ser um processo
bastante violento, voltado contra o indivíduo.
E depois, muitas das coisas que
nos tornam infelizes no trabalho são, sim, causadas pela empresa e podem ser
melhoradas. Aliás, não conheço nenhuma organização cujos valores passam por
tornar o trabalho o mais penoso possível e acabar com qualquer esperança de que
as pessoas tenham experiências agradáveis no trabalho.
Pesquisas no nível da psicologia social
podem nos ajudar a definir o que exatamente torna as pessoas infelizes em seus
empregos:
Não controlar o próprio trabalho - Pessoas que possuem pouco controle sobre o seu
trabalho acham seus empregos estressantes e insatisfatórios. Quanto mais
controle as pessoas possuem sobre o como
elas conduzem suas tarefas, mais satisfação encontram em seu trabalho. Ou seja,
buscar ter maior controle sobre o trabalho pode fazer a pessoas mais felizes.
Pequenas chateações - O papel atola toda a hora na impressora? É
preciso alimentar os mesmos dados em 2 ou 3 planilhas diferentes? A satisfação
das pessoas no trabalho é surpreendentemente ligada a esses pequenos
aborrecimentos no dia-a-dia, que acabam se somando e tornando-as cada vez mais
irritadas. As pessoas não se importam em trabalhar mais executando tarefas
desafiadoras, mas quando essas tarefas não parecem fazer nenhum sentido, elas
rapidamente tornam-se infelizes. Então, é possível conversar com a chefia e com
os colegas para tentar livrar a equipe desses “perrengues”.
Salários injustos - Quanto maior a diferença entre aquilo que as pessoas acham que
deveriam estar ganhando e o que ganham, menos felizes serão. A dúvida é: com
quem as pessoas comparam o salário? Outras pessoas da empresa ou outras pessoas
de mesmo cargo? Ambas as comparações podem afetar o nível de satisfação com seu
trabalho. Ou seja, a percepção de injustiça interna e o desequilíbrio com o
mercado são igualmente importantes. É possível conviver com diferenças
pequenas, mas grandes disparidades vão consumir o trabalhador. Se for o caso, é
hora de arrumar as malas.
Problemas familiares - Ter um bebê pode ser maravilhoso, mas também é
estressante. Estudos mostram que trabalhadoras que têm uma criança tornam-se
significativamente menos satisfeitas com o trabalho por períodos de até 5 anos
após o nascimento. É um lembrete que eventos externos podem afetar o nível de
satisfação com o trabalho e não somente os aspectos do próprio trabalho. Ou
seja, situações particulares podem estar causando a insatisfação com o
trabalho.
Falta de realização - Para sentirem-se satisfeitas com o trabalho, as
pessoas precisam sentir que estão evoluindo. Em alguns tipos de trabalho, esse
sentimento de realização é claro, em outros nem tanto. Como pequenas
engrenagens de grandes máquinas, pode ser difícil enxergar a contribuição
individual nos resultados na organização. Por isso, o próximo fator é tão
importante...
Falta de feedback - No tocante à satisfação no
trabalho, o silêncio é péssima notícia. Receber um feedback negativo pode ser
doloroso, mas pelo menos indica as melhorias que podem ser feitas. Por outro
lado, feedback positivo pode fazer toda a diferença no quanto as pessoas
sentem-se satisfeitas. Se as pessoas não recebem feedback, devem pedir. O
feedback adequado pode ajudar significativamente a necessidade de realização
pessoal.
Trabalhos simples e monótonos - Em geral, pessoas acham mais satisfatório o
trabalho mais complexo e que oferece mais variedade. Parecem gostar de
trabalhos complexos (mas não impossíveis), talvez porque os forçam a ir além e
progredirem. Coisas fáceis tornam as pessoas entediadas. Isso pode não ser
possível para todos os tipos de emprego, mas as pessoas devem buscar adicionar
variedade e complexidade a suas atividades. Os desafios vão fazê-las
sentirem-se mais felizes.
Falta de apoio da organização - Empregados muitas vezes se queixam que as
chefias comunicam muito pouco sobre os objetivos, estratégias e os resultados da
empresa. As pessoas desejam que a organização se importe com elas e que estejam
recebendo o retorno do esforço e dedicação ao trabalho. Implicitamente, as
pessoas recebem mensagens nesse sentido na forma em que são tratadas pela
chefia, pelos benefícios que recebem e pelo salário pago. Se as pessoas
percebem que são apoiadas pela organização, eles são mais felizes no trabalho.
Se essa comunicação for falha, os colaboradores devem pedir mais informação e
mais apoio à chefia.
Lua de mel e ressaca - As pessoas sentem-se em lua de mel com a empresa
nos primeiros dois ou três meses após sua contratação. Mas esse pico de
satisfação começa a diminuir depois de mais ou menos 6 meses. O período de lua
de mel tende a ser maior entre pessoas que estavam particularmente
insatisfeitas com seu trabalho anterior. Mas e quando a lua de mel já passou há
tempos e as pessoas entram em um período de uma longa ressaca com a empresa? Às
vezes, a única maneira de recuperar a alegria é buscar um novo emprego.
Infeliz na vida, infeliz no trabalho - Pessoas que são felizes, ou que tenham a
predisposição de serem felizes na vida, em geral acham mais fácil encontrar
felicidade no trabalho. Entretanto, o oposto disso é que pessoas insatisfeitas
com sua vida e que buscam essa satisfação no trabalho, em geral não vão
encontrar. Ou seja, existem pessoas que jamais serão felizes no trabalho, não
importando o cargo que tenham ou a empresa em que trabalhem. O tipo de
felicidade que estão buscando não poderá ser encontrado no trabalho.
Adaptado do artigo
“10 Ways To Be Happier At Work”, publicado em http://www.spring.org.uk/2014/04/10-ways-to-be-happier-at-work.php?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+PsychologyBlog+%28PsyBlog%29
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