28 de janeiro de 2014

Liderando equipes técnicas - PARTE 1


Tommaso Russo

Na atual economia do conhecimento, a vantagem competitiva das organizações não é mais garantida através do acesso à informação ou ao capital – mas sim através de colaboradores que possam trazer soluções inéditas e criativas às demandas do mercado. A sobrevivência das empresas é cada vez mais dependente da motivação, criatividade, energia e engajamento das pessoas e, em particular, de seus técnicos especialistas. Esses especialistas são compostos dos colaboradores altamente qualificados em um campo técnico, tais como profissionais em TI (principalmente desenvolvedores de soluções), Engenharia, Pesquisa e Desenvolvimento, Direito Especializado e Finanças.
O desafio da liderança
Enquanto a especialização técnica e criativa que esses profissionais fornecem é de alto valor à organização, os especialistas frequentemente têm dificuldades quando assumem posições de gestão, como líderes de equipes, líderes de projetos ou gerentes seniores de projetos.
“Gestão de pessoas” não é exatamente sua zona de conforto e as estruturas matriciais, bastante utilizadas na organização por projetos, oferecem pouca autoridade formal aos coordenadores, fazendo-lhes sentirem-se sem poder perante a equipe. Assumir uma primeira posição de chefia é difícil para a maioria das pessoas, mas em um ambiente técnico, diversos conflitos interpessoais podem surgir como resultado da própria natureza dos técnicos, tanto como líderes quanto como parte de uma equipe.
Demandas dos profissionais das áreas técnicas
As ações de desenvolvimento de lideranças patrocinadas por RH, por seu caráter genérico, em geral apresentam resultados decepcionantes quando aplicados aos gestores das áreas técnicas. Isso porque, diferentemente dos colaboradores das demais áreas da organização, o pessoal técnico apresenta demandas bastante específicas e particulares, que não são adequadamente analisadas e consideradas:
Autonomia: técnicos não abrem mão da autogestão e da independência. São motivados pela própria natureza de seu trabalho e preferem um alto nível de liberdade relativamente ao ambiente, ritmo e conteúdo de seu trabalho. Seu desejo por autonomia é muitas vezes acompanhado por uma tendência de modificar a forma das metas recebidas, determinando eles mesmos a melhor maneira de atingir os objetivos.
Resultados: técnicos, são, por sua natureza, solucionadores de problemas. Gostam de desafios e são motivados para realizar tarefas que exijam habilidades e esforços consideráveis. Querem também que seu trabalho faça a diferença. Então, colocar à prova suas competências e conhecimentos, de uma forma que traga resultados concretos para a organização, estimula seu comprometimento e entusiasmo.
Manter-se atualizado: o pessoal técnico quer estar a par do que há de mais atual em seu campo de atuação. A obsolescência é algo inaceitável para eles (e, na verdade, um risco para sua carreira). Quer ser o primeiro a testar novas ideias, técnicas ou aparatos tecnológicos. Demanda aperfeiçoamento constante e adora variedade e desafios. Se suas habilidades são subutilizadas e se sentem que suas tarefas são muito rotineiras, essas pessoas tendem à desmotivação.
Identificação profissional: Técnicos tendem a identificarem-se em primeiro lugar pelo seu campo de especialização e depois pela organização na qual trabalham. Isso pode causar conflitos quando seus objetivos profissionais chocam-se com as prioridades e metas impostas pela chefia ou pela empresa como um todo.
Contribuição no estabelecimento da missão e metas: técnicos podem ser resistentes a cumprir as metas impostas pela organização, ao menos que entendam claramente como eles e a organização podem se beneficiar de seus esforços. Querem envolver-se na definição dos objetivos e expectativas, de forma a garantir que seu conhecimento e seus talentos serão otimizados. Pelo fato de possuírem grande necessidade de resultados, mudanças inesperadas em objetivos ou obstáculos que atrapalhem o atingimento de suas metas podem desanimar ou desmotivá-los.
Apoio acadêmico: o espírito competitivo é muito forte entre o pessoal técnico, embora normalmente dissimulado. Em geral são pessoas confiantes e ambiciosas. Pelo fato de identificarem-se fortemente uns com os outros e compartilham um desejo comum de desenvolvimento profissional, valorizam a troca de ideias e o networking. Valorizam também o aprendizado com outros especialistas, mesmo de outros campos de conhecimento. Preferem, assim, que suas chefias estabeleçam um relacionamento de suporte acadêmico com eles.
As armadilhas da liderança de equipes técnicas
A ineficácia das lideranças de equipes técnicas é causada por posturas e comportamentos inadequados às características dessas pessoas. Dentre as atitudes das chefias, são consideradas verdadeiras armadilhas:
Microgerenciamento: apesar de reclamarem que seus chefes são muito envolvidos em dirigir seus trabalhos, quando colocados em posições de chefias os técnicos repetem esse mesmo comportamento. Isso acontece porque técnicos continuam sendo “especialistas” e assumem que sua promoção à liderança foi baseada no fato de possuírem maior conhecimento ou de tomar melhores decisões que os outros membros da equipe. Os microgestores também acabam ignorando as habilidades e especializações individuais dos membros da equipe por estarem muito focados na “resposta certa”, perdendo assim a capacidade de enxergar as habilidades de solução de problemas de sua equipe.
Falhas em assumir o papel de gestor: pessoal técnico investiu anos para tornarem-se especialistas em seu campo. O papel de líder ou gerenciar outras pessoas está fora de sua zona de conforto e essas chefias vão buscar muitas desculpas para fugir de suas responsabilidades de líderes e escapar para aquilo que sabem fazer (habilidades técnicas). Com isso, atividades típicas do líder – desenvolvimento de competências de liderança, orientações à equipe ou direcionando o trabalho – são ignoradas. Além disso, acham que os membros da equipe sabem o deve ser feito e que não precisam de “uma babá”.
Uma abordagem contraproducente de “coordenador de projeto”: Muitos gestores recém-promovidos utilizam as ferramentas com as quais estão acostumados. Para técnicos, isso significa o uso de uma série de metodologias de gerenciamento de projetos. Essa abordagem acaba fazendo do líder o maior gargalo para o trabalho da equipe, já que todas as atividades devem ser iniciadas e aprovadas pela chefia. Os projetos ficam sobrecarregados com reportes e mais reportes e o líder logo fica sobrecarregado com a quantidade de detalhes os quais tenta administrar.
A disputa pelo desenvolvimento: Pessoal técnico anseia por oportunidades de desenvolvimento e por atuar em projetos de ponta. Líderes de equipes técnicas são confrontados com dilemas frequentes relacionados à distribuição dos trabalhos pelos membros da equipe: algumas tarefas são criativas, desafiadoras; outras são repetições e rotinas. Como a chefia equilibra isso entre a equipe? Mantém os trabalhos mais interessantes para eles mesmos? A equipe caba avaliando o gestor em favorecimentos de algumas pessoas em detrimento de outras e na lógica utilizada na distribuição das tarefas.
Consequências da liderança inadequada
Grande parte do conhecimento da organização está concentrada nas áreas técnicas. Ou seja, a rotatividade de especialistas, além dos aspectos óbvios da dificuldade de substituição e do custo, pode prejudicar seriamente a própria sobrevivência da organização, na medida em que a inovação e a capacidade de responder às demandas dos clientes ficam comprometidas.
Além da perda de talentos, a má liderança é fonte primária da desmotivação (diminuição da produtividade), e do aumento, por parte das equipes, da resistência às mudanças e a novos desafios.
Os problemas que surgem nas áreas técnicas podem ser fator de perplexidade e surpresa aos altos executivos aos quais estão subordinadas, já que essas equipes em geral mantém-se mais ou menos isoladas do restante da organização. Além disso, sua dinâmica é pouco familiar a executivos que não possuem formação técnica especializada, tornando difícil a gestão e orientação às chefias técnicas.
Na edição do próximo mês, a continuação deste artigo aborda ações recomendadas para o desenvolvimento das lideranças de equipes técnicas.

Fonte: Report 2013 – Leading Technical People – GP Strategies / Blessing White Research


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