26 de setembro de 2013

Incentivos financeiros: eu acredito em você ou eu não confio em você?

Tommaso Russo

Os incentivos financeiros (sob a forma de remuneração variável ou comissões baseadas em desempenho) devem continuar como tendência em muitas empresas. Discussões se essa ferramenta é boa ou não são feitas em diversos fóruns de remuneração: que tipos de incentivos dar às pessoas, quanto as pessoas devem receber e como. Porém, é necessário também definir o “porque” precisamos desses incentivos.

Acontece que o “porque” é o fator principal que define o sucesso de qualquer programa de incentivos. Isso é particularmente importante em qualquer coisa que esteja baseada no desempenho das pessoas. Por exemplo, considere as Olimpíadas. Em alguns países, a atitude predominante é “seja o melhor, ganhe medalhas e você será recompensado”. Em outros é “é bom que você seja o melhor e ganhe medalhas, senão boas coisas não vão acontecer para você”.

Os dois tipos de países veem seus programas olímpicos como “baseados no desempenho”. É verdade também que os atletas adquirem perspectivas muito diferentes no porque seus países possuem esses tipos de incentivos por desempenho. No mundo empresarial, não é assim tão óbvio. Normalmente, não são incluídas ameaças explícitas ou veladas nos planos de incentivos. Mas em um mundo onde a percepção é realidade, precisamos nos esforçar mais em explicar o “porque”.

O título deste artigo sugere alguém sendo informado do novo programa de incentivos em sua empresa e pensando “por que eu tenho de atingir essas metas, eles não confiam em mim?”. Nas semanas anteriores, a empresa gastou tempo e esforços consideráveis definindo escalas de recompensas que poderão atingir até 200% do valor esperado do prêmio. A área de Remuneração tem dois objetivos: 1) pagar uma quantia base razoável, com base nas práticas de mercado e 2) propiciar àqueles com desempenho superior ao esperado um incentivo com valor muito acima da média de mercado.

Infelizmente, a empresa não construiu um clima de confiança requerida em um programa como esse. Alguns executivos enxergam uma remuneração variável (ou seja, não garantida) como uma afronta à sua dignidade. Incentivos por desempenho não são considerados como uma recompensa por um trabalho bem feito – é encarado como uma ordem para trabalhar mais.

Essa desconfiança consiste em um momento único para o aprendizado. Como a companhia está sinceramente tentando fazer a coisa certa, esta deve responder à resistência do executivo com mais comunicação, inclusive a nível pessoal.

É uma ocasião para desenvolver os colaboradores, explicando porque o programa de incentivos foi implementado. É claro que nem todos os participantes estarão convencidos, mas um número considerável de pessoas entenderá e fará com que o programa de incentivos tome o impulso necessário para deslanchar. É importante que os canais de comunicação mantenham-se abertos ao longo de toda a duração do plano e que os elegíveis respondam bem ao desafio.

Pelo menos, a maioria acreditará que a empresa acredita em si mesma e sabe que seu sucesso depende na crença de seus colaboradores. É muito melhor que ter um programa que transmita a mensagem “parabéns, você ganhou, mas ainda não confio em você”.

Então, as organizações devem dar uma olhada em seus planos de incentivos e fazer um exercício de reflexão: “Realmente acreditamos no poder de meus colaboradores em alavancar resultados, ou criamos o plano porque não achamos que haverá desempenho adequado sem ele”. A seguir, considerar a mesma pergunta do ponto de vista dos participantes: se houver duas respostas diferentes, algo deve ser feito.


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