3 de julho de 2013

Como lidar com um engana-tico

Tommaso Russo

O simpático passarinho da fotografia é chamado engana-tico, também chamado de chupim. É conhecido pelo hábito de colocar seus ovos no ninho de outras aves, para que as mesmas possam chocá-los, criá-los e alimentá-los como filhotes. São diversas as espécies parasitadas por essa ave, mas a mais comum de se ver alimentando um filhote de chupim é o tico-tico.
Há o correspondente humano do engana-tico e tenho a certeza que você conhece muitos. Na verdade, são os colaboradores que constituem verdadeiros pesadelos para as empresas.
São em geral pessoas de saúde fraca (pelo menos, visitam regularmente médicos para conseguir atestados). Nunca estão do posto de trabalho quando se precisa deles. São mestres na enrolação e roubam o quanto puderem tempo no trabalho, no vestiário, no banheiro e na volta do almoço. Estão sempre próximos do limite nas regras, mas nunca ultrapassam esse limite. Fazem o estritamente necessário para se manter no emprego, mas nunca se desenvolvem profissionalmente e fazem apenas “o que são pagos para fazer”, ou seja são de uma falta de entusiasmo paralisante.
Os engana-ticos são mestres em criticar a empresa, nunca através de formas aceitáveis, mas pelo e-mail, no cafezinho e no refeitório. São contra qualquer política da empresa e seu descontentamento contamina os colegas, já que estão sempre reclamando, fofocando e criticando tudo e todos.
Seja qual forem os comportamentos que os engana-ticos demonstrem, eles não vão melhorar sem a intervenção da organização. Maus hábitos, assim como os bons hábitos ficam entranhados se não forem removidos rapidamente.
O impacto dos engana-ticos
Esse tipo de pessoa impacta de maneira negativa o ambiente de trabalho e as pessoas que ali estão, de maneira constante e insidiosa. Os colegas um pouco mais espertos tentam ignorar os engana-ticos, percebendo o quanto eles prejudicam o trabalho. Mas os outros acabam adotando os mesmos comportamentos e vão envenenando o ambiente.
A situação piora quando os colegas que trabalham na equipe do engana-tico são considerados “trouxas”, já que tentam fazer seu melhor pela empresa, ficando desmoralizados perante a turma do contra. Estes acabam perdendo o respeito pelas chefias e, possivelmente, sua fé na empresa, porque esta não faz nada perante essa situação, a qual todos estão enxergando.
A responsabilidade da empresa em lidar com o engana-tico
Os colegas do engana-tico dependem de iniciativas da empresa para lidar com o problema. Eles podem comentar entre si sobre o assunto, afastar-se do engana-tico, mas não podem fazer muita coisa para lidar com essa pessoa. Eles apenas percebem como a atitude do engana-tico prejudica o trabalho e eles estão certos.
Os colegas pouco podem fazer para que o engana-tico faça a sua parte no trabalho. Podem estabelecer regras para a equipe, dar feedback, aconselhar e manifestar sua insatisfação, mas o engana-tico não tem nenhuma obrigação em mudar ou melhorar sua atitude. O comportamento do engana-tico é em última instância uma responsabilidade do gestor.
Como abordar um engana-tico
Se a empresa entende que há esperança de salvação para um engana-tico, a primeira coisa a procurar entender o que está errado. Essa análise pode fornecer indicações sobre o que causa esse tipo de comportamento. A maioria dos colaboradores começa seu trabalho na empresa de forma mais ou menos entusiasmada, mas, por um motivo, essa motivação se perde em algum ponto, ou eles mesmos autossabotam sua motivação. As duas coisas podem acontecer. Entender o que aconteceu é a chave para a transformação do engana-tico em alguém produtivo.
É raro que um colaborador acorde pela manhã e decida ter um dia miserável no trabalho. É também raro que alguém queira se sentir um fracassado ao final do expediente. É raro, mas esse tipo de gente existe e o colaborador acredita que a culpa é da empresa e não dele. Ou o chefe ou o trabalho é o problema.
Após ter conversado com o colaborador para descobrir a fonte de sua insatisfação e moral baixo, é possível ajudá-lo a fazer alguma coisa a respeito. Com um engana-tico, isso é difícil. Primeiro, ele deve reconhecer sua responsabilidade pelas próprias ações e reações causadas por acontecimentos no ambiente de trabalho que podem ter ocorrido anos antes.
Nesse ponto, pode ser que seja difícil para a chefia também. A liderança pode admitir que os pontos alegados sejam justos. Nesse caso, pedidos de desculpas devem ser dados, mesmo que o gestor nada tenha a ver com fatos do passado. Pelo menos, faz sentido perguntar-se quais as condições do ambiente de trabalho causaram esse tipo de comportamento nas pessoas e como isso pode ser corrigido.
A liderança pode decidir também que o engana-tico já tenha trazido consigo esses comportamentos quando foi admitido na empresa. Isso faz com se questione os processos de seleção utilizados, incapazes de identificar candidatos potencialmente problemáticos.
Sejam quais forem as causas das atitudes do engana-tico, este deve conscientizar-se que as reações às circunstâncias são de sua única responsabilidade. De fato, nossas atitudes para situações eternamente mutáveis podem ser as únicas coisas que estejam sob nosso controle na maioria das vezes.
Passos seguintes para lidar com o engana-tico
Seja lá o que for que a liderança tenha decido porque um engana-tico é um engana-tico, as seguintes ações podem ser tentadas:

  • Tente mostrar os ganhos que ele poderá ter se resolver melhorar. Ganhos pessoais e profissionais são resultados de um bom desempenho e vontade de crescer na empresa.
  •  Diga a ele da sua crença de que ele pode melhorar. Às vezes uma palavra de incentivo de um chefe é a primeira que o engana-tico recebe em muitos anos.
  • Oriente o colaborador em estabelecer algumas metas factíveis de curto prazo. Essas metas devem ter um prazo definido e definições claras do que é esperado e podem incluir atitudes e comportamentos. É claro que não é possível que o chefe e o colaborador compartilhem uma definição clara do que é uma “atitude errada”, mas é possível estabelecer parâmetros que estabeleçam que determinados comportamentos são considerados como inadequados pela chefia. Faça o acompanhamento do progresso dessas metas.

Essas sugestões podem ajudar a tratar o engana-tico. Mas, se tudo foi tentado e o colaborador não mudar, a empresa deve ética e legalmente ajudá-lo a encontrar uma oportunidade em outro lugar.
Para completar, o engana-tico não corre risco algum de extinção na natureza.
Nem suas contrapartes nas organizações.

Baseado no artigo How to manage a deadbeat, publicado em http://humanresources.about.com/od/manageperformance/a/dead_beat.htm?nl=1

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