29 de abril de 2012

Garantir qualidade de vida no futuro é uma responsabilidade individual


Renato Bernhoeft – Valor Econômico 

Dois fatores atuais exigem de todos nós uma criteriosa revisão na maneira como estabelecemos os planos de previdência e imaginamos a qualidade de vida que desejamos para o futuro. Refiro-me a crise financeira que se iniciou em 2008, acompanhada pelo aumento nos índices de longevidade da população — Brasil incluído. O cuidado em acumular uma reserva financeira que permita manter o padrão de vida na chamada fase do desfrute — que está sempre combinada com uma preocupação nos cuidados com a saúde tanto física como mental — tem se mostrado insuficiente para a obtenção de um equilíbrio no bem-estar.
Vale ressaltar que esta não é apenas uma questão de políticas públicas ou da estrutura dos planos oferecidos no mercado. É, cada dia mais, uma responsabilidade que cada indivíduo deve assumir no seu planejamento de vida. O ideal é começar esse processo educativo na infância, ou mesmo na etapa da meia-idade, quando se intensificam a consciência e as preocupações relativas ao futuro.
Basta um olhar atento ao que vem ocorrendo nos países considerados do primeiro mundo: eles agora necessitam rever suas políticas e práticas de bem-estar. Muitos se viram forçados a ampliar a idade para aposentadoria, além de reduzir os benefícios que eram assegurados por economias aparentemente saudáveis e em constante crescimento.
Também os asiáticos, bem mais austeros nesse tema, já percebem que devem aprender com os erros do mundo ocidental. Segundo declarações de Jin Liqun, diretor do conselho supervisor do fundo da riqueza soberana chinês, China Investment Corp., a Europa é uma sociedade de bem-estar desgastada. As leis trabalhistas geram preguiça e indolência em vez de trabalho duro.
Ele conclui dizendo que um sistema é bom quando ajuda aqueles em desvantagem a desfrutar de uma vida melhor. Mas isso não deveria induzir as pessoas a não trabalhar. 
Um fenômeno similar, e também constrangedor, vem ocorrendo nos Estados Unidos. Segundo artigo recente do The Wall Street Journal , cada vez mais americanos idosos estão fazendo algo que nunca imaginaram: recorrer à família em busca de ajuda financeira. Alguns estão até pedindo aos filhos um lugar para morar.
Uma pesquisa do Pew Research Center indicou que, em 2011, 39% dos adultos com pais acima de 65 anos deram ajuda financeira a eles. Segundo o Centro de Pesquisa da aposentadoria do Boston College, a família típica americana está atingindo a idade da aposentadoria com uma poupança insuficiente para manter o padrão de vida. Muitos tiveram suas economias destruídas por contas médicas e pela crise financeira. Em alguns casos o dinheiro foi mal administrado. 
Isso tudo reforça a necessidade de rever alguns princípios que orientaram as estratégias e decisões relativas ao desejo de manter o padrão de vida conseguido durante a chamada vida ativa .
Desfrutar, afinal, não é um projeto que deve vir após um longo período de trabalho ativo, mas parte integral de toda uma vida. Parar de trabalhar também não é solução, o ideal é alterar o ritmo e se reinventar.
Reserva financeira e boa saúde já não são suficientes. É importante encontrar sentido para continuar vivendo com prazer e qualidade. 
Além disso, é essencial não adiar para um futuro incerto os planos e sonhos do presente.
Fique atento para não se tornar obsoleto e estabeleça como um dos seus primeiros compromissos refletir sobre o assunto. O conforto gera acomodação.
Aprendizado e mudanças decorrem do desconforto, especialmente para os adultos.

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