27 de agosto de 2015

Os hábitos podem liquidar as iniciativas do RH


Tommaso Russo

Queixa comum dos colegas de RH: as pessoas na empresa simplesmente não prestam atenção aos comunicados que recebem e poucos são os que participam (ou entendem) novas políticas ou ações implantadas. É como se todos estivessem ligados no piloto automático e não consideram estímulos. Na verdade, as pessoas estão no piloto automático e, de fato, todos nós levamos no automático uma grande parte de nosso dia.
Quase a metade de nosso dia é controlada por hábitos e costumes. Quando encaramos uma situação que nos é familiar, não estamos conscientes do que fazemos e simplesmente repetimos o que fazemos sempre.
Os hábitos nos tornam eficientes
Por exemplo, quando chegamos para trabalhar de manhã, será que refletimos nos custos e benefícios em tomar um café ou checar nossos e-mails? Claro que não: simplesmente fazemos o que estamos acostumados a fazer todos os dias.
Isso são hábitos. Hábitos são positivos, pois nos permitem desempenhar tarefas repetitivas forma rápida e eficiente, como preencher planilhas, enviar e-mails, conferir números, etc. Os hábitos são essenciais no nosso dia-a-dia. Mas também, de certa forma sabotam as iniciativas do RH.
O motivo é que os hábitos “terceirizam” o controle sobre nossas ações no ambiente. Vemos algo (por exemplo, a garrafa térmica com café) e agimos automaticamente (pegamos o café). Não precisamos perder tempo e energia refletindo; ao contrário, liberamos nossa mente para pensar em coisas mais importantes, como o relatório que deve ser entregue ao chefe até o fim do dia.
Os hábitos são formados fazendo-se uma coisa repetidamente em um mesmo cenário. São uma associação arraigada entre um cenário (a garrafa térmica) e a ação (tomar café). O problema com os hábitos é que são muito difíceis de abandonar, que é exatamente o que algumas iniciativas de RH tentam fazer com comportamentos das pessoas.
As pessoas não mudam seus hábitos no grito
Por exemplo, suponhamos que a empresa está preocupada com a alta utilização do plano de saúde e decide criar hábitos saudáveis em seus empregados, implantando uma política de prevenção através de subsidio ao valor da mensalidade de uma academia de ginástica.
As coisas começam quando perguntamos aos colaboradores se estes desejam ser mais saudáveis praticando mais exercícios – e naturalmente, a maioria vai concordar. É organizado um evento de inauguração do programa com grande participação e entusiasmo.
Mas depois de algum tempo, as pessoas não aparecem mais na academia. O RH prepara lembretes, faz divulgação no jornal da empresa, nos murais, no refeitório. Paira inclusive a ameaça de suspensão do benefício.
Aqueles que estão em boa forma física continuam participando – claro, grande parte do custo da mensalidade da academia é pago pela empresa – mas, e os outros que realmente precisam de exercício? Continuam não aparecendo. Isso acontece porque quando as pessoas dizem que gostariam de exercitarem-se, trata-se de uma escolha racional. Agora, ir regularmente à academia implica em mudar hábitos inconscientes.
Frequentar a academia significa NÃO ir direto para casa depois do trabalho (um hábito), NÃO assistir a novela ou navegar na Internet logo ao chegar em casa (mais hábitos). Também significa NÃO acordar um pouco mais tarde e mudar toda uma rotina matinal que as pessoas praticaram por anos e anos.
Claro que qualquer um pode mudar seus hábitos e decidir ir à academia em um dia em particular. Mas lembrar de fazer isso com frequência irá custar um esforço consciente que envolve as rotinas do trabalho e da vida particular.
Ou seja, a melhor maneira de mudar um hábito não é a força bruta – mas usar nossos hábitos como vantagem.
Estratégia 1 – Mudar o ambiente
Os hábitos são provocados por alguma coisa no ambiente que estamos. É como um sinal que diz para nossa mente: “É hora de fazer ISSO! ”. A pressão do hábito de fazer isso pode diminuir se o sinal for removido do ambiente. Por exemplo, colocar as garrafas de água mineral na frente das latas de refrigerante, alimentos não saudáveis em potes opacos, etc.
Estratégia 2 – Utilize os hábitos em seu favor
Se é preciso que os colaboradores prestem atenção em algo novo – uma nova política, comunicados do RH, etc. – tente utilizar os hábitos já estabelecidos das pessoas. Ao invés de usar cartazes ou impressos que ninguém lê, observe quando, como e onde surgem situações que atraem a atenção das pessoas. Por exemplo, se a maioria lê os e-mails de trabalho nos domingos à noite como preparação para a semana, enviar mensagens a elas nessa ocasião. O uso dessa técnica pode dobrar o nível de engajamento das pessoas.
Estratégia 3 – Crie novos hábitos
Hábitos antigos são difíceis de eliminar: os circuitos cerebrais ainda se mantêm por muito tempo mesmo quando não são mais necessários. Mas eles podem ser superados pela concorrência exercida por hábitos novos.
No caso da academia, um modo de contribuir para a presença das pessoas é através da criação explícita de um novo hábito relacionado à presença das pessoas ali. Definir um horário fixo, em dias fixos e um conjunto de sinais ou gatilhos associados ao exercício (uma música, por exemplo), o uso de concursos, incentivos, peças atraentes de comunicação e outros truques temporários, de forma que as pessoas frequentem a academia durante mais ou menos um mês.
Uma vez estabelecida a rotina, os incentivos provisórios podem ser eliminados, mas o ambiente (os sinais, o horário, etc.) devem permanecer exatamente os mesmos.
Utilize os hábitos para a melhoria de resultados
Na medida em que entendemos grande parte dos comportamentos das pessoas (e os nossos próprios), podemos adaptar as iniciativas de RH para que se tornem mais efetivas, lidando com os hábitos dos colaboradores ao invés da força para tentar mudá-los.
Quando os colaboradores não participam dos programas de prevenção, faltam nos treinamentos ou não prestam nenhuma atenção à comunicação interna, não é hora de reclamar, mas sim compreender como funcionam os hábitos e como podemos lidar com eles para termos sucesso na implantação de nossos programas e políticas.

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