30 de abril de 2015

Por uma nova visão para o RH – um pouco de utopia



Tommaso Russo
 No início de minha história com o RH (e já se vão uns bons 20 anos), talvez por ingenuidade ou idealismo, eu tinha uma crença que a grande missão do RH seria...acabar com o RH. Ou seja, tentar escapar do papel de mediador entre a empresa e suas pessoas. Afinal, o papel dos chefes e executivos parecia ser unicamente dar resultados financeiros e evitar funções que lhes pareciam inúteis e desconfortáveis como, por exemplo, gerir pessoas.
Hoje, já bastante mais amadurecido (em todos os aspectos que o termo supõe) e tendo desempenhado diversos papéis de gestor, consolador, mediador e orientador de pessoas, sejam elas meus subordinados mas principalmente, subordinados de outros, costumo falar bastante sobre o RH estratégico e o que pode ser isso.
Claro, o senso comum diz que o RH deve conseguir libertar-se de suas amarras transacionais e “ajudar” a organização a obter resultados através das pessoas. Mas dentro desse contexto, parece-me que nossa missão é preparar as chefias, gerentes e executivos a que decidam, por si mesmas, sobre as políticas de pessoal, quem deve ser contratado, que tipo de liderança deve ser exercida, quem e como deve ser desenvolvido, ter salários aumentados ou ser promovido. Ou seja, ensinar a gerir as pessoas e não gerir as pessoas por elas. É o tal “desenvolvimento de lideranças”.
Em resumo, o RH deve seguir os seguintes princípios:
Os gestores, e não o RH, deve definir, praticar e desenvolver as lideranças da organização
Os gestores, e não o RH, devem exercer o trabalho de gerir pessoas – contratar, avaliar, recompensar e disciplinar os colaboradores – e devem ser avaliados por isso, e não somente pelas finanças
Os colaboradores, e não o RH, devem lidar e resolver os problemas diretamente com seus gestores.
Algumas ideias alinhadas com esse conceito:
Delegar o desenvolvimento das lideranças a consultores externos – em geral, consultorias acabam trazendo seus próprios modelos, competências e segmentação de profissionais. O envolvimento e comprometimento da alta administração no processo pode não ser o suficiente. Ou seja, em um ano, o pool de talentos da empresa pode crescer ou diminuir em quantidade de pessoas conforme a “situação” da empresa muda. E no final, as vagas de executivas e outras pessoas críticas continuam a ser preenchidas por pessoas externas, por que não há valorização do programa de altos potenciais.
Competências de liderança não são apenas para chefes – todos os colaboradores devem ser treinados em competências básicas de liderança, garantindo que os valores da organização sejam conhecidos e praticados por todos. O estilo de liderança deve ser próprio da organização e não um transplante de outras empresas com culturas e valores distintos. Os gestores devem envolverem-se em avaliar as necessidades da empresa, definindo treinamentos e eventos de desenvolvimento e conduzindo esses treinamentos. Se não possuírem habilidades para isso, o RH os ensina a ensinar.
Deixar que os gestores gerenciem – as decisões críticas sobre os subordinados devem ser deixadas para os gestores. Afinal, são eles que respondem pelos resultados da equipe que lideram. Se o RH limita seu campo de ação – decidindo quem deve ser contratado, o quanto deve ser seu salário, como avaliar seu desempenho – os gestores perdem sua liberdade de atingir os resultados que desejam. É injusto, neste caso, responsabilizá-los quando esses resultados não são atingidos. É claro que, com a liberdade vem a responsabilidade, especialmente a liberdade de tomar boas decisões. Tome por exemplo o processo de seleção. O papel de RH é providenciar bons candidatos, aplicar testes e entrevistas especializadas, fornecendo ferramentas e dados para uma decisão, mas a decisão final é do gestor.
Avaliação de desempenho – Ao invés de definir “curvas forçadas” de distribuição de resultados das avaliações, os executivos devem analisar os dados e decidir se os resultados efetivamente refletem o desempenho de suas áreas. O papel do RH é fornecer dados e fazer as perguntas certas e não assumir as decisões.
Remuneração – As decisões sobre a remuneração dos colaboradores são deixadas aos gestores, já que são eles quem devem atrair e reter os melhores colaboradores. Não há necessidade em definirem-se faixas máximas ou mínimas de salários. Cabe ao RH obter dados de mercado para orientar as decisões. Mas como evitar o pagamento de salários e prêmios extravagantes? Atrelando boa parte da remuneração dos executivos à lucratividade de empresa e provendo meios de avaliar se a remuneração do indivíduo é justificada pela contribuição que agrega ao negócio. Caso positivo, as referências de mercado tornam-se menos importantes.
Lidando com os conflitos – O papel do RH é empoderar gestores e colaboradores com as habilidades, dados e melhores práticas para que resolvam em conjunto seus problemas. Isso reforça a importância de fornecer habilidades de liderança a todos os colaboradores, principalmente na negociação, comunicação e feedback. Se os problemas não puderem ser resolvidos nesse nível, não é o RH que deve ser envolvido, mas sim o chefe do chefe e, em último caso, os altos executivos. Isso implica que os gestores devem ser preparados para essa situação ao invés de “deixe que o RH resolve” e “estão passando por cima de mim”.
Utopias? Talvez, mas pode ser um belo sonho a perseguir. Pensem nisso...

Inspirado no artigo “Toward a new HR philosophy”, publicado em http://www.mckinsey.com/insights/organization/toward_a_new_hr_philosophy

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