29 de janeiro de 2015

Resiliência: afinal, o que é esse negócio?



Tommaso Russo
Resiliência pode ser a palavra da moda nestes últimos tempos. Com a imprevisibilidade dos fenômenos meteorológicos, políticos e econômicos dos últimos tempos (só para lembrar: eventos climáticos extremos – secas, inundações, derretimento das calotas polares, invernos muitos rigorosos, verões muitos quentes e secos - movimentos sociais no Brasil, Ucrânia e México, o caos destilado pelo Estado Islâmico, epidemia de Ebola na África, deflação na Europa, inflação na Rússia e nos hermanos), a essência da resiliência pode ser definida como a capacidade de sobreviver e progredir apesar de instabilidades significativas, que serão a nova rotina futura.
É a habilidade que indivíduos, organizações, cidades, nações e espécies sobreviverem, aprenderem, adaptarem-se e seguirem em frente. Não significa recuperação da situação passada – para como as coisas costumavam ser - mas sim um salto para frente.
É importante distinguir a diferença entre robustez (a habilidade de aguentar a instabilidade) e resiliência (a capacidade de recuperação). Esses conceitos são complementares: esforços para desenhar sistemas que possam resistir a ataques cibernéticos significa construir sistemas mais robustos. A habilidade de manter a operacionalidade, preservando a confiança  e a reputação pública após um ataque desse tipo mostra a resiliência do sistema.
Existem três áreas do conhecimento ligadas ao conceito de resiliência. A primeira foca nas pessoas: a escola psicológica. A segunda, na infraestrutura crítica para que a civilização funcione: é a chamada escola de engenharia. A terceira trata da evolução de sistemas e ecossistemas da natureza: a escola ambiental. Apesar de serem estudadas separadamente, essas escolas são interdependentes: organizações precisam de gente, infraestrutura e processos para manterem-se funcionais no meio da turbulência.
Ou seja, para as organizações continuarem a caminharem para frente, seus dirigentes devem integrar aspectos dessas três áreas. Para começar, a resiliência individual e das pessoas da companhia. Há muitos anos atrás, Warren Bennis observou grandes líderes, jovens e maduros, e descobriu que aquilo que todos têm em comum foi o fato por terem vivenciado acontecimentos trágicos – desde a morte dos pais até experiências profissionais traumáticas – que os testaram até o fundo da alma. Eles sobreviveram e desenvolveram-se como pessoas por causa disso.
A primeira evidência da resiliência é a crença em um futuro positivo. Quanto antes você convencer a si mesmo e aos que o cercam que é possível superar uma crise, por pior que seja, mais rapidamente forma-se a resiliência.
Quanto à infraestrutura, uma falha costuma levar a identificar e culpar o aspecto que causou a falha, provocando esforços obsessivos para que não se repita nunca mais (torná-lo mais robusto). Para formar a resiliência, ao contrário, o foco é naquilo que continua funcionando e que pode ser utilizado para manter as coisas funcionando. Na fase posterior de recuperação haverá tempo para a análise das causas do colapso e como a correção poderá ser feita.
Finalmente, no tocante aos sistemas e processos, temos que aprender com a natureza que a função prevalece sobre a forma. Para continuar a existir enquanto uma organização viável, as empresas talvez devam reinventar-se radicalmente, da mesma forma que organismos e ecossistemas têm feito ao longo de milhões de anos. Um bom exemplo é a Kodak insistir em seus filmes de película, apesar de deter um grande número de patentes relacionadas a fotografia digital, mantidas engavetadas.
A resiliência é uma capacidade natural. Podemos cultivá-la e fazê-la crescer tornando-nos mais conscientes de nossa própria natureza e do mundo ao nosso redor, em particular aos aspectos ligados de como as coisas se relacionam e dependem umas das outras. Podemos assim remover as resistências em construir organizações que sejam ágeis e consigam responder perante condições rapidamente e inesperadamente mutantes. O mundo está tornando-se cada vez mais e não menos turbulento – e nossa resiliência será testada mais e mais vezes.


Adaptado de What’s This Thing Called Resilience?, publicado em http://www.strategy-business.com/blog/What-is-This-Thing-Called-Resilience

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