27 de outubro de 2014

Por que o RH e a gestão às vezes não se dão bem



Tommaso Russo
 

As atitudes dos gestores com relação ao RH são, muitas vezes, ambíguas. Por um lado, querem que a equipe de RH envolva-se nas decisões estratégicas da organização; por outro lado, eles não querem que suas ações sejam percebidas como um “programa de recursos humanos”. Gestores querem que RH os ajude a construírem equipes efetivas, mas reagem negativamente quando RH quer que eles “obedeçam as políticas”. Em suma, grande parte da gestão está descontente com o time de RH.
Existe uma série de fatores que influenciam esse relacionamento complicado, mas três deles destacam-se:
Existe uma confusão sobre o papel que RH está desempenhando em um determinado momento.
Como apontado pelo autor Dave Ulrich há quase 20 anos atrás, existem quatro funções diferentes executadas pelos profissionais de RH: especialista administrativo, advogado dos colaboradores, parceiro estratégico do negócio e agente das mudanças. Em alguns casos, um profissional de RH especializa-se em apenas uma dessas funções. (por exemplo, o departamento de pessoal está focado na função administrativa). Muitos outros colaboradores do RH passam de um papel para outro rapidamente e quando eles (e a gestão de RH) não deixam claro qual a função estão exercendo em uma situação, acabam criando mal entendidos.
Por exemplo, um analista de RH, que participava de um grupo que estava definindo atividades de planejamento de uma área do negócio, desviou a discussão sobre o mapeamento de um processo para o processo de avaliação de desempenho dos colaboradores. Os demais participantes ficaram incomodados com a mudança de assunto, pois estavam progredindo na discussão e o RH praticamente levou a reunião de volta ao início. Mas o analista de RH estava simplesmente preocupado se as consequências desse estudo iriam levar à eliminação de alguns cargos e, se isso fosse feito, se as demissões seriam feitas com bases justas.
O que ocorreu é que o analista passou da função de “agente das mudanças” para a de “advogado dos colaboradores”, mas como não avisou aos demais que tinha trocado de chapéu, criou o constrangimento no grupo.
Infelizmente, isso ocorre com frequência, principalmente com os generalistas de RH, que acabam assumindo múltiplas funções na organização. Quando não fica claro qual o papel que RH está exercendo em um determinado momento e por que, os gestores ficam confusos e culpam o RH por não fornecer a eles o apoio NE
As chefias não aceitam inteiramente sua própria responsabilidade como gestores de pessoas.
Acham que quem deve “tomar conta” das pessoas é o RH. Fogem de responsabilidades como entrevistas com candidatos, avaliações de desempenho, discussões sobre salários, ações decorrentes a resultados de pesquisas de clima, feedbacks, atualização de descrições de cargo e uma série de outras coisas inerentes a seu papel na organização. Frequentemente, a causa está na falta de tempo, habilidade ou interesse dessas chefias – ou em um extremo desconforto ao entrar no território das relações interpessoais. Não importa por qual razão, isso deixa ao RH o papel de polícia e cobrador para que os processos aconteçam, o que não contribui em nada para a melhoria da relação com as chefias.
Muitos profissionais de RH não de dedicam a entender em profundidade o negócio da organização e as pressões pelas quais passam os gestores.
É surpreendente a quantidade de pessoas do RH que não conseguem explicar qual é o modelo de negócio na empresa na qual trabalham, as características do mercado no qual a organização está inserida e os problemas críticos de seus produtos e serviços – e muito menos conhecer e entender seus números e indicadores financeiros. Pouquíssimas organizações incentivam job rotations entre RH e as áreas operacionais. RH torna-se, assim, uma área puramente técnica e acadêmica, não acompanhando as nuances (ou os princípios básicos) do negócio. Fica difícil para o RH contextualizar os processos críticos envolvendo pessoas junto à gestão e priorizá-los de acordo com as demandas do negócio.
A boa notícia é que esse problema não é de solução impossível – apesar de que, assim como uma luta, é necessário o envolvimento das duas partes. Os gestores devem aceitar que a gestão do capital humano representa a parte importante de seu trabalho que não pode ser delegada ou ignorada. Os profissionais de RH, por sua vez, devem entender o negócio e reconhecer os desafios das metas dos gestores. Além disso, ambas as partes devem ser explícitas sobre qual é o papel que RH desempenha em um determinado momento e situação.
Obviamente, isso não irá ocorrer da noite para o dia, mas existem algumas etapas simples para começar. Por exemplo, os gestores de RH devem passar mais tempo com o pessoal da linha e menos com seus pares, não falando sobre o que RH está fazendo, mas das preocupações e das necessidades deles para que consigam alcançar os objetivos esperados.
 Os gestores da operação devem assegurar que a área de RH participe ativamente das avaliações dos resultados da empresa e que sejam incentivados a contribuir, não somente sobre questões ligadas a pessoas, mas também sobre decisões estratégicas e táticas do negócio. Se insistirem, verão que o RH pode fornecer algumas perspectivas originais.
 
Baseado no post “Why Managers and HR Don’t Get Along”, publicado em http://blogs.hbr.org/2014/07/why-managers-and-hr-dont-get-along/

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