21 de setembro de 2014

Como obter consenso em seis passos



Tommaso Russo

Líderes devem tomar decisões importantes e, frequentemente, de forma rápida. Sabem que deveriam envolver outras pessoas no processo, pois assim o conhecimento que está na cabeça de muitos colaboradores pode enriquecer a decisão. Além disso, aqueles que participam de uma decisão tendem a assumir parte da “paternidade” dela, facilitando muito sua implementação e diminuindo as resistências.
Só que o compartilhamento de decisões quase nunca acontece. Por quê? Normalmente por causa de uma ou por causa da combinação dos seguintes fatores:
Os líderes imaginam-se como as pessoas mais capazes e inteligentes do pedaço, não valorizando a opinião dos outros. Às vezes são simplesmente arrogantes, mas às vezes estão um passo à frente dos demais (isto é, possuem uma natureza visionária diferenciada) e efetivamente produzem as melhores respostas.
Precisam tomar uma decisão urgente rápido e não acham que têm tempo para envolver outras pessoas. Às vezes, a pressa vem da pura postergação (foram empurrando com a barriga a decisão até que não haja mais tempo).
Não sabem como envolver outras pessoas em um processo de tomada de decisão colaborativa. Talvez até já tenham tentado fazer isso, mas o resultado foi uma grande confusão, desistiram de repetir a experiência.
Uma metodologia, conforme mostrada adiante, permite aos líderes envolver outras pessoas em decisões por consenso de uma maneira eficiente. Mesmo que o líder tenha certeza que ele tem as melhores condições para decidir, o envolvimento de outras pessoas resulta em comprometimento dos demais com a decisão e pode eventualmente ajudar a refinar a decisão, tornando-a ainda melhor.
É bom observar que a metodologia para o consenso pressupõe que o grupo esteja reunido pessoalmente. Para reuniões virtuais, existem diversas ferramentas e sistemas que tornam efetivas as reuniões à distância. A metodologia proposta deve, então, ser adaptada para essa situação.
Em primeiro lugar, é interessante definir o que se entende por “consenso”. Uma definição interessante é: Consenso é uma decisão para a qual cada membro do grupo participou, compreendeu e dispõe-se a apoiar.
Notar que o obter o consenso não implica que todos concordam 100% com a decisão tomada. Significa que todos puderam manifestar-se e todos foram ouvidos. Ao final da reunião, todos estão comprometidos a apoiar a decisão. A decisão final é de autoria e pertence a todo o grupo.
O líder também deve decidir sobre um critério de “morte súbita”, caso o grupo não consiga chegar a um verdadeiro consenso. Caso contrário, em tese, se apenas uma pessoa não concordar com a decisão, a reunião pode se arrastar indefinidamente.
As alternativas mais comuns para a “morte súbita” são: Decisão pelo voto da maioria, ou o líder decide e ponto final.
O risco do impasse e a aplicação da “morte súbita” é sempre uma ameaça – é raro que seja usada, mas simplesmente pelo fato de existir, fará com que os membros do grupo negociem entre si até atingir o consenso.
A seguir é mostrada uma metodologia geral a ser utilizada para decisões por consenso. É uma maneira de garantir que todos os participantes participem, que gera atitudes construtivas e faz com que o grupo caminhe em direção a um consenso que será aceito e apoiado por todos. Em geral, a aplicação do método dura por volta de 1 hora.
A chave para chegar a um consenso final é que o líder assegure a concordância dos participantes no início e no final de cada etapa. A construção do consenso é feita através de uma série de pequenos acordos à medida que se escala a montanha. Não é possível pular diretamente para o grande consenso apenas no final do processo.
Passo 1 - Definir do que se trata
Deve haver consenso naquilo o que está sendo decidido. O objeto da decisão deve ser testado, de forma que seus limites não sejam muito estreitos, o que diminui muito a quantidade de alternativas. Por exemplo, ao invés de “Devemos abrir uma nova filial em Fortaleza ou Natal?”, o tema de decisão deveria ser “Vamos decidir qual a melhor localização para a expansão de nossa filial Nordeste no Recife”.
Passo 2 - Gerar alternativas
Essa é a hora de fazer um “brainstorm”. Siga o método para o brainstorming e anote cada ideia gerada em um flipchart ou num quadro branco.
Passo 3 - Esclarecer cada alternativa
Reserve algum tempo para que os participantes perguntem e definam exatamente o que significa cada alternativa. Ainda não é hora de julgar as ideias, ou de concordar ou discordar delas. É apenas a oportunidade de assegurar que todos os participantes entenderam cada alternativa.
Passo 4 - Reduzir as escolhas
Some o total de ideias geradas e divida por 3. Se foram propostas 30 alternativas, 30:3 = 10. A seguir, forneça a cada membro 10 círculos adesivos, uma cor para cada participante. Pedir a cada um que cole seus adesivos nas 10 alternativas preferidas. Deve ficar claro ao grupo que isso não faz parte da decisão – o objetivo é sentir por parte do grupo quais ideias flutuam e quais afundam.
Passo 5 - Manter e eliminar
Começar com a alternativa mais votada. Perguntar aos participantes: “Parece que essa ideia recebeu mais votos. Que tal mantê-la por enquanto?”. Se todos concordarem, marque com um círculo. Passar para a ideia menos votada: “Esta alternativa não recebeu nenhum voto. Podemos eliminá-la?”. Se ninguém discordar, risque-a. Se alguém se opõe, perguntar o porquê. Dê tempo para os argumentos e passe para a próxima.
Aparentemente, esse processo é longo e maçante. Porém, na prática, é bastante rápido, pois o grupo frequentemente fica com as alternativas mais votadas. O líder pode também sugerir a combinação de ideias, por exemplo: “Por que vocês gostaram tanto da alternativa A? Podemos acrescentar alguma coisa à alternativa B que atenda esse ponto?”.
Pode ocorrer também que seja apropriado escolher múltiplas alternativas, como, por exemplo, em decisões envolvendo redução de despesas, meios para alavancar faturamento, etc., ou seja, diversas ações podem ser tomadas. Ou seja, o produto final do consenso é uma lista de alternativas.
Passo 6 - Resumir a decisão ou decisões e definir o plano de ação correspondente.
Esse é o ponto no o real comprometimento do grupo é testado. Quando os participantes atingem um consenso verdadeiro, as pessoas ficam ansiosas para participar do plano de ação. Se repentinamente ocorre o silêncio e as pessoas olham para o chão nessa hora é sinal que o processo de obtenção do consenso falhou em alguma etapa.
Conseguir o consenso das pessoas é uma tarefa difícil para o líder. È necessário um espírito aberto para considerar qualquer alternativa. Os egos devem ser ficar do lado de fora da sala de reunião. O tempo e esforço despedidos não só resultam em decisões melhores, mas a implementação será mais rápida e menos traumática, já que todos estão comprometidos com o resultado.

Adaptado de A Six Step Consensus Decision Making Framework, publicado em http://management.about.com/od/projectmanagement/fl/A-Six-Step-Consensus-Decision-Making-Framework.htm


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