26 de agosto de 2014

A cultura dos prêmios Paratodos


Tommaso Russo

Imagine a cena: sua empresa tem orçamento para a rodada anual de aumentos por mérito suficiente apenas para a concessão de um aumento médio de 2% da folha de pagamento. Os poderes instituídos na organização decidem então: “Vamos dar um aumento de 2% para todos – ninguém fica triste e um problema a menos para as chefias”.
Práticas desse tipo podem ser chamadas de “prêmios Paratodos”, na qual basta estar vivo na data de pagamento para merecer automática e democraticamente um aumento salarial por mérito. O desempenho individual das pessoas não é levado em consideração; assim tanto o Huguinho Batemetas, o Zezinho Meiaboca e o Luisinho Retrabalho recebem os mesmos 2% de aumento.

E todos deveriam ficar felizes. E porque os gestores acham o politicamente correto é uma boa ideia?

É fácil de comunicar e administrar. É só apertar um botão e todas as alterações estão feitas, fácil e rápido. A equipe da folha de pagamento agradece.

Ninguém precisa se preocupar com a avaliação de desempenho e com o desperdício de papel decorrente.

As chefias não precisam sofrer com decisões sobre níveis de desempenho e avaliação de metas. Todo mundo recebe o mesmo tratamento e ninguém precisa receber feedback negativo. Ainda bem, pois, deve reconhecer-se, nenhum gestor acha que ganha o suficiente para ter aquela conversa com um colaborador relapso.-

Algumas pessoas tentam convencer a si mesmas que esse tratamento é justo para todo mundo. Nenhum risco de discriminação, de protecionismo, nem de jogar um grupo de subordinados contra outro, nem de “desmotivar” os esforçados. Socialmente adequado.

Todos trabalharam, todos merecem (e a CLT e o Sindicato exigem).

É lógico, esta não é a estratégia que se encontra em uma cultura meritocrática, onde a recompensa é resultado do desempenho. Nem em uma organização onde a gestão tenta desenvolver uma cultura de equipes de alta performance. Na verdade, essa tática efetivamente incentiva e recompensa o oposto, já que são as pessoas de baixo desempenho quem mais gostam desse tipo de iniciativa. E por que não deveriam? É um grande negócio para o Zezinho Meiaboca e melhor ainda para o Luisinho Retrabalho.

Mas é bom ficar de olho na porta de saída para os talentos e as pessoas de alto desempenho, já que eles não vão ficar muito tempo onde seu talento não é reconhecido ou recompensado. Mas não se preocupe, o Zezinho e o Luisinho vão ficar por aí muito tempo. Aliás, eles nunca vão sair por conta própria.

Então, essas organizações devem considerar o que elas realmente pretendem reconhecer e incentivar através dessas políticas discricionárias de recompensas. Se é apenas um agradecimento pelo fato das pessoas continuarem sentadas na mesma cadeira por mais um ano, então provavelmente estão jogando fora um monte de dinheiro. E não haverá melhoria nos resultados da empresa em retribuição a esse esforço.

Seria muito melhor recompensar aqueles que, além de estarem sentados na cadeira, contribuíram para a melhoria dos resultados do negócio. A menos que a empresa ache que qualquer pessoa que esteja apenas esquentando o assento mereça méritos anuais pelo dispêndio de energia térmica.

Fica então a escolha: prêmios por resultados ou prêmios Paratodos? E se o dinheiro saísse do bolso da gestão, ao invés do caixa da empresa? Estratégias do tipo “todos merecem” não veem o papel estratégico da remuneração, que deve ser utilizada para beneficiar ao máximo a organização. É o equivalente a um sujeito abrir a janela e jogar notas de dinheiro ao vento, esperando que com isso as coisas melhorem... Infelizmente, não vão.



Baseado no artigo “The Pay-for-Pulse Culture”, publicado em http://www.compensationcafe.com/2014/07/the-pay-for-pulse-culture.html

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